domingo, 14 de março de 2010

Relação homem-mundo: O Corpo.

A fenomenologia se caracteriza como não sendo uma linha filosófica, mas uma conduta frente ao mundo. Dessa forma de se relacionar com o mundo nasce uma forma diferente de conhecimento também. Na fenomenologia a relação do sujeito com o objeto estudado se dá de forma diferente, exatamente porque esse homem não está fora do mundo que estuda, mas profundamente imbricado, inserido nele. O sujeito não está fora do mundo, mas sim em um corpo num mundo percebido desde sempre. Merleau-Ponty (1999), filósofo e fenomenólogo, desfaz essa idéia tradicional de que de um lado existe o mundo dos objetos, do corpo, da pura facticidade e, de outro, o mundo da consciência e da subjetividade, da transcendência através da busca de definir fenomenológicamente o que é perceber que algo está no mundo. O que pretende é melhor “compreender as relações entre a consciência e a natureza interior e o exterior”. O sujeito está e é no corpo, e este está sempre no mundo. Daí se pensa que o sujeito realmente está no mundo, desde sempre, imbricado, numa ligação pré-reflexiva com o mundo. O homem está no mundo antes do pensamento, e esse pensamento seria a consciência, caracterizada de forma diferente do que é concebida no pensamento científico. A consciência não seria algo constituinte do mundo, não teria esse poder de criar o mundo, mas também não é apenas consciência de que algo está lá e está sendo percebida por mim, uma consciência perceptiva. Na verdade o filósofo faz um diálogo entre essas duas formas de pensar a relação do homem com o mundo (o sentido construído pela consciência ou dado pelo mundo), mostrando que é exatamente nesse diálogo entre o homem e o mundo é que se tem o sentido colocado no mundo.


 
Antes de trabalhar com a idéia de corpo, busca se desfazer da idéia dualista de sujeito objeto, como a científica que vê o corpo como apenas objeto, amontoado de órgãos, ou das filosofias da consciência, que colocam a percepção do corpo como construída pela consciência. Ele trabalha o corpo como o local onde o ser existe no mundo, onde o campo do fenômeno se abre para ele. Seria o corpo vivido, algo existente, onde ocorre a conexão entre esses dois aspectos que são sempre trabalhados em separado pelo pensamento ocidental. O corpo fenomênico é esse corpo vivido, vivido em sua relação com o mundo. A vivência de uma relação com o mundo e com os outros (sempre através do corpo) se torna elemento de base do viver humano, ganhando no momento da percepção um sentido tanto o mundo quanto o próprio ser. Nesse diálogo entre as partes que já se encontram juntas é que tudo se significa e se define. Parte-se na construção do conhecimento sempre da subjetividade como estando totalmente ligada e essa busca do objetivo no real, ao contrário do pensamento científico que tenta excluir o que seria subjetivo, deixando apenas o que é do objeto “em si”.