terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dr. Nise

 primeira psiquiatra mulher do brasil que marcou território, criou, recriou e ressignificou a vida do doente mental neste país.
Poeta, sensitiva, médica humanista, mulher de força e coragem para sua época, ousada com humildade, coisa rara... pena que memória de brasileiro costuma ser curta; que a informação é limítrofe, e que almas como essa, praticamente avatarísitca na sua área, num país moral e intelectualmente limitado como o nosso, fica anônima ao passar do tempo.
salve Nise da Silveira, agora e sempre, amém.

"Dedicou sua vida à psiquiatria e manifestou-se radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoqueinsulinoterapia e lobotomia

(...) De 1921 a 1926 cursa a Faculdade de Medicina da Bahia, onde formou-se como a única mulher entre os 157 homens desta turma. Está entre as primeiras mulheres no Brasil a se formar em Medicina.

(...) Em 1927, após o falecimento de seu pai, ambos mudam-se para o Rio de Janeiro, onde engajou-se nos meio artístico e literário.

Em 1933 estagia na clínica neurológica de Antônio Austregésilo.
Aprovada aos 27 anos num concurso para psiquiatra, em 1933 começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.

(...) 
Durante a Intentona Comunista foi denunciada por uma enfermeira pela posse de livros marxistas. A denúncia levou à sua prisão em 1936 no presídio da Frei Caneca por 18 meses.
Neste presídio também se encontrava preso Graciliano Ramos, assim ela tornou-se uma das personagens de seu livroMemórias do Cárcere.
De 1936 a 1944 permanece com seu marido na semi-clandestinidade, afastada do serviço público por razões políticas. Durante seu afastamento faz uma profunda leitura reflexiva das obras de Spinoza, material publicado em seu livro Cartas a Spinoza em 1995.

(...)  Em 1944 é reintegrada ao serviço público e inicia seu trabalho no "Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II", noEngenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde retoma sua luta contra as técnicas psiquiatricas que considera agressivas aos pacientes.
Por sua discordância com os métodos adotados nas enfermarias, recusando-se a aplicar eletrochoques em pacientes, Nise da Silveira é transferida para o trabalho com terapia ocupacional, atividade então menosprezada pelos médicos. Assim em 1946 funda nesta instituição a "Seção de Terapêutica Ocupacional".
No lugar das tradicionais tarefas de limpeza e manutenção que os pacientes exerciam sob o título de terapia ocupacional, ela cria ateliês de pintura e modelagem com a intenção de possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com a realidade através da expressão simbólica e da criatividade, revolucionando a Psiquiatria então praticada no país.

O Museu de Imagens do Inconsciente
biografia de Van Gogh é uma referência importante para os estudiosos interessados em compreender as possibilidades terapeuticas do trabalho criativo frente às perturbações emocionais.
Em 1952, ela funda o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura que criou na instituição, valorizando-os como documentos que abrem novas possibilidades para uma compreensão mais profunda do universo interior do esquizofrênico.
Entre outros artistas-pacientes que criaram obras incorporadas na coleção desta instituição podemos citar: Adelina Gomes; Carlos Pertuis; Emygdio de Barros, e Octávio Inácio.
Este valioso acervo alimentou a escrita de seu livro "Imagens do Inconsciente", filmes e exposições, participando de exposições significativas, como a "Mostra Brasil 500 Anos".
Entre 1983 e 1985 o cineasta Leon Hirszman realizou o filme "Imagens do Inconsciente", trilogia mostrando obras realizadas pelos internos a partir de um roteiro criado por Nise da Silveira.
A Casa das Palmeiras
Poucos anos depois da fundação do museu, em 1956, Nise desenvolve outro projeto também revolucionário para sua época: cria a Casa das Palmeiras, uma clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas.
Neste local podem diariamente expressar sua criatividade, sendo tratados como pacientes externos numa etapa intermediária entre a rotina hospitalar e sua reintegração à vida em sociedade.

Foi uma pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, que costumava chamar de co-terapeutas.
Percebeu esta possibilidade de tratamento ao observar como um paciente a quem delegara os cuidados de uma cadelaabandonada no hospital melhorou tendo a responsabilidade de tratar deste animal como um ponto de referência afetiva estável em sua vida.
Ela expõe parte deste processo em seu livro "Gatos, A Emoção de Lidar", publicado em 1998.

Interessada em seu estudo sobre os mandalas, tema recorrente nas pinturas de seus pacientes, ela escreveu em 1954 a Carl Gustav Jung, iniciando uma proveitosa troca de correspondência.
Jung a estimulou a apresentar uma mostra das obras de seus pacientes que recebeu o nome "A Arte e a Esquizofrenia", ocupando cinco salas no "II Congresso Internacional de Psiquiatria", realizado em 1957, em Zurique. Ao visitar com ela a exposição, a orientou a estudar mitologia como uma chave para a compreensão dos trabalhos criados pelos internos.
Nise da Silveira estudou no "Instituto Carl Gustav Jung" em dois períodos: de 1957 a 1958; e de 1961 a 1962. Lá recebeu supervisão em psicanálise da assistente de Jung, Marie-Louise von Franz.
Retornando ao Brasil após seu primeiro período de estudos jungianos, formou em sua residência o "Grupo de EstudosCarl Jung", que presidiu até 1968.
Escreveu, dentre outros, o livro "Jung: vida e obra", publicado em primeira edição em 1968.

Reconhecimento internacional

Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica ("Societé Internationale de Psychopathologie de l'Expression"), sediada em Paris.
Sua pesquisa em terapia ocupacional e o entendimento do processo psiquiátrico através das imagens do inconsciente deram origem a diversas exibições, filmes, documentários, audiovisuais, cursos, simpósios, publicações e conferências.
Em reconhecimento a seu trabalho, Nise foi agraciada com diversas condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento.

Obras publicadas

  • SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra, Rio de Janeiro: José Álvaro Ed. 1968.
  • SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
  • SILVEIRA, Nise da. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra. 1986.
  • SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.
  • SILVEIRA, Nise da. Nise da Silveira. Brasil, COGEAE/PUC-SP 1992.
  • SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1995.
  • SILVEIRA, Nise da. Gatos, A Emoção de Lidar. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998.

Ligações externas


domingo, 24 de outubro de 2010

Deeksha - Benção da Unidade



... Se nós realmente sentimos pelos outros, do fundo do coração, o Divino vai trabalhar substancialmente através de nós... 








Broadcast Sri Bhagavan: Rome, Italy 1-9-10 
Nesta conferência Sri Bhagavan explica como dar Deeksha com instruções sobre como focar uma Intenção específica e alcançar milagres. 
1.      Relaxe a pessoa, e você também deve relaxar. O doador e o receptor devem assumir a mesma posição.
2.      Tente sincronizar sua respiração com a do receptor. 
3.      Contemple o problema do receptor. Devemos indagar qual o problema e qual a solução desejada. Você deve esperar até sentir [compaixão] por ele com seu problema. Se o sentimento não estiver ali, a bênção não será poderosa. Você deve realmente sentir que esta pessoa deve ser ajudada. Enquanto você faz isso, começa a sentir completamente a outra pessoa. Você como que se torna um com seu sofrimento. Você pode chamar o divino. Você pode rezar ao divino. Você pode suplicar ao divino, você pode falar com o divino. Você pode fazer o que quiser. Você pode se dirigir ao divino e dizer: “Por favor, ajude esta pessoa”. Depois da oração você deve ver a solução. Você não deve focar no problema. Você deve focar na solução. 
4.      Segurando a imagem da solução (por exemplo, [repetindo] “Esta pessoa tem dinheiro suficiente”) você coloca as mãos sobre ela. Repita a oração (como: “Por favor, dê isso a este homem”) e agradeça. 
5.      No caso de o sentimento não estar lá, peça-lhe para voltar numa outra hora. O sentimento é a conexão entre você e o divino, e entre o divino e a outra pessoa. Se não há sentimento você não deve ir adiante com a Deeksha. 
6.      Dando Deeksha você deve estar consciente que você é meramente um comunicador, um instrumento, você é somente um fio entre o divino e a pessoa. O divino quer ajudar mas precisa de intermediários. O divino escolheu você para ajuda-lo. 
7.      Como em seu banco, você tem uma conta de bom carma e outra de carma ruim. À medida que continuamos a ajudar pessoas assim, nossa conta de carma bom cresce e cresce e cresce. A vantagem é que você pode converter seu carma bom – usar seu carma bom para ajudar a si mesmo. Pode usa-lo quando de um problema com sua saúde, com um problema conjugal, com um problema de relacionamento. Então, enquanto você ajuda, torna-se apto a se ajudar. 
8.      E quanto maior sua comunicação com o divino, quanto maior sua fé, [tanto mais coisas], tudo pode acontecer. Você se tornará apto a obter tais resultados que poderão ser denominados de milagres. Mas não os veja como milagres. Todos podem fazer tudo. 
9. O doador de Deeksha normal pode ajudar muitas pessoas sem esforço. Você deve agradecer ao divino por fazer de você seu instrumento. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Frase da semana

Desinstitucionalizar, nesse sentido mais amplo, é desconstruir comportamentos, práticas e relações postos a serviço da disciplinarização dos corpos, da rotulação e da estigmatização dos que se encontram com um transtorno psíquico ou, dito de outra forma, daqueles que são movidos por ‘outras razões’. Desisntitucionalizar é criar meios terapêuticos funcionais para o ser humano e para o incentivo de relações autênticas e espontâneas, desmontando os meios ditos terapêuticos que servem ao propósito da naturalização das desigualdades e da banalização da violência (Castel, 1987). 

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

pro-cura: Um recorte sobre a atenção psicológica na Saúde Publica.

pro-cura: Um recorte sobre a atenção psicológica na Saúde Publica.

Um recorte sobre a atenção psicológica na Saúde Publica.

Considero que a atuação do psicólogo no novo conceito de atenção básica em saúde publica é caracterizada pela participar de um conjunto de ações, no âmbito individual e coletivo, que abranja a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento a reabilitação e a manutenção da saúde via ações na perspectiva do matriciamento em saúde mental.
Nesse sentido deve a Atenção Básica ser efetiva por meio de práticas democráticas, pelo trabalho em equipe na lógica do conceito de território, delimitado e orientada por princípios da universalidade equidade e integralidade , que contemple a visão contemporânea de humanização, responsabilização e do incentivo a participação e controle social, garantindo a execução dos princípios norteadores do SUS.
Partindo destes pilares, a ação do psicólogo integra as atividades compartilhadas junto ás categorias profissionais que compõe a equipe Nasf, tais como: noção de territorialização, planejamento local de saúde, mobilização e organização popular, participação nos conselhos de saúde, visitas domiciliares, consultas integradas, acolhimento resolutivo, grupos de promoção a saúde e encontro de saberes onde se discutem temas que venham a contemplar as respostas que visam a resolutibilidade dos múltiplos desafios do território.
O psicólogo realiza ainda atividades específicas do seu domínio, tais como, atendimento á crianças, adolescentes, adultos, idosos e famílias dialogicamente, compartilha saberes co os outros profissionais da equipe Nasf e PSF .
Atende o que se caracterizam como “urgências psicológicas” e presta assessoria para a equipe como um todo.
A lógica da atenção psicológica é calcada na criação de espaços conversacionais e dialógicos em que a linguagem compartilhada entre os psicólogos e as pessoas envolvidas, configura o contexto para que haja uma escuta e exerça a alteridade necessária para a promoção da melhoria de vida da população e equipe de trabalho.
Nesse sentido considero o acolhimento como um evento que articula pelo menos três dimensões: a relacional que enfatize o vínculo entre os atores envolvidos no processo de cuidado ( equipe ampliada, intersetorialidade  e usuários), a organizacional se ocupando da reorganização  do processo de trabalho para atender as demandas de saúde  e a  dimensão da ética norteando a postura profissional tendo com principal referencial a humanização da atenção e respondendo ás necessidades de saúde dos cidadãos.    

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

‎"Não é sinal de saúde

 estar bem adaptado a uma sociedade doente"

Krishnamurti

terça-feira, 7 de setembro de 2010

INFANTES DA INFANTARIA PARALELA


Considero um essa questão difícil de se dizer : contra ou a favor . Já que se por um lado o jovem que cometeu algum crime está vivendo uma fase onde se considera que ele não deve se responsabilizar criminalmente pelos seus atos , em função de se considerar que suas funções mentais , emocionais e fisiológicas ainda estão em processo de maturação. Sendo os pais ou principais os responsáveis legais pelas ações do adolescente.

Por outro lado vemos esse mesmo jovem tendo preferência em alguns escalões do crime organizado , muitas vezes ocupando o lugar do que metaforicamente posso chamar do pelotão de  Infantaria nessa guerra não declarada que vivemos.

Uso o termo “infantaria” porque vejo que assim como nas antigas batalhas campais, os senhores da guerra lançavam seus batalhões de infantaria muitas vezes para provocar um numero grande de baixas do inimigo, ganhar território para o avanço do seu pelotão de cavalaria e o mais perverso de todos os objetivos, cansar e provocar gastos de munição do inimigo pelas mortes do “infantes”.

Nesse sentido o adolescente ocupou um lugar estratégico no crime organizado, já que em pouco tempo eles (os jovens ) se por acaso for detido, vai ser dado a ele uma pena em que muitas vezes prevê liberdade assistida , prestação de serviços a comunidade.

A minha experiência mostra que esses mesmos jovens, no cumprimento da medida socioeducativa, volta a cometer os mesmos delitos. 

Muitas vezes em nome da justiça, os poderes do Estado acaba cometendo muita Injustiça 

Vejo que o jovem  já é responsabilizado pelo seu delito, mas por se tratar de uma pessoa em processo de maturação fisiológica, psíquica e emocional deve passar por um processo de cuidado  especializado de cuidado e orientação, que envolve sua comunidade, família, escola e trabalho.
   
Se a redução da maioridade penal representar mais uma lei puramente punitiva e reativa a algum slogam de revista ou considero contra, mas se for uma oportunidade de repensar o antigo modelo de atenção ao jovem que cometeu algum crime, considerando o importante papel e potencial de contribuição dos diversos setores da sociedade a fim de criarem um novo sistema que ofereça de fato uma oportunidade de mudança de paradigma de comportamento da criança e do adolescente, considero minha opinião a favor da discussão.
Mas o que tenho visto nos meios de deliberação congresso nacional  e formação de opinião como as  Universidades, discussões que considero frágeis do ponto de vista de não considerar aspectos fundamentais para essa questão  e tendenciosas no sentido de favorecer algum interesse partidário ou eleitoral, para tirar o foco da atenção da opinião publica para esse tema ou para apresentar uma ação que atenda a aliviar um sentimento de justiça  da  a sociedade (ou parte dela) como é o caso de crimes que ganham destaque por semanas nos noticiários.
Antes de uma lei que sancione uma punição mais severa ou não, considero fundamental o investimento em formação continuada  e projetos de cuidado dos cuidadores para os  profissionais  que lidam direta ou indiretamente com essa questão ( educadores sociais, professores, para citar alguns)  para que , antes de se tornar lei não seja legitimada nas instituições ações que se assemelham às ações previstas numa redução da idade penal. 

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um Olhar sobre o sentimento religioso e seu manejo clínico



Certo dia ouvi dizer que o ser humano saudável era aquele que gozava de plenitude nas dimensões do Biológica , psíquico e social, argumentando ser essa uma proposta de visão mais integrada do Ser Humano, contraponde-se ao paradigma do conceito de saúde como ausência de doença.

Na história da psicopatologia que se mescla muitas vezes a história da medicina é possível verificar que ao longo da evolução da compreensão sobre o sofrimento humano, passou muitas vezes por atribuir a causa da doença ao sobrenatural, há possessão por espíritos malignos ou por vontade cósmica.

A cura do doente já foi de responsabilidade do Xamã ou curandeiro que através de procedimentos mágicos, intervia no seu paciente e ele melhorava, quer por seus e muitos poderes terem efeito naquele doente , ou quem sabe pela eficácia simbólica do ato de curar naquele contexto.

Mas esses métodos de cura muitas vezes não davam conta de atender todas as patologias e pior, sua práxis não era acessível, houve então a necessidade de pensar uma arte ou técnica que permitisse compreender, explicar e intervir no doente de modo que fosse possível outras pessoas terem acesso e testa-las em outras pessoas.

Nesse momento a ciência fez uma escolha: deixar o aspecto espiritual para os xamãs , padres atribuindo a esse aspecto um status não científico pois esse aspecto não é consensualmente observável, passável de medições e controle.

Vejo hoje que a ciência precisou abandonar antigas técnicas e visões para afirmar um modelo de prática que controlasse e medisse os processos da natureza. A começar por definir a natureza humana : Bio- psíquica-Social. Mas isso não quer dizer que o ser humano na contemporaneidade abandonou a dimensão espiritual do seu cotidiano e do seu imaginário.


Nesse sentido vejo que a psicologia se vê desafiada no lugar em que ocupou durante quase um século inspirada pela idéia de que “a religião é o ópio do Povo”, ou seja , não considerando o aspecto religioso como parte fundamental do seu paciente.

Em outras palavras, a psicologia se mostrou tendendo seu olhar para “psicologisar a espiritualidade” já as pessoas cujo principal referencial se dá pelo prisma religioso, apresenta uma tendência a “espiritualizar o psicológico”.

Tarefa desafiadora já que posso considerar o relato do sentimento religioso vivencia mística ou espiritual tão inefável e sua manifestação tão variada que certamente põe em cheque o lugar do cientista que pode prever e controlar todas as variáveis do seting terapêutico.

Outro desafio é que a clinica contemporânea enfrenta um empasse em relação ao acolhimento dessas questões já que durante a sua formação o profissional não adquiriu um vocabulário que lhe permita saber do que se está falando ao relatar vivencias do Sagrado.

Segundo Amatuzzi (2006)”... é cada vez mais frequente o aparecimento explícito de inquietações e motivações religiosas, bem como de conflitos pessoais e familiares eclodidos a partir de posicionamentos religiosos...”

Para chegarmos a uma aproximação que respeite a natureza e o significado dessa experiência, pode ser útil começar diferenciando a inquietação religiosa da experiencia religiosa propriamente dita.

Amatuzzi (2006) pp. 216 comenta:

“A primeira se refere à experiência de um vazio que habita a pessoa, enquanto a segunda é a experiência de um preenchimento desse vazio, por meio do encontro com algo percebido como real e que está fora da pessoa. Essas experiencias são complementares: uma sem a outra se esvazia. A inquietação religiosa diz respeito a um conhecimento de si, das dimensões de nossa aspirações, de nossos desejos. A experiencia religiosa diz respeito a um encontro efetivo com algo outro que é capaz de preenche-lo. “

A primeira é vivida inicialmente como carência e depois interpretada como insatisfação. A segunda é vivida inicialmente como preenchimento, expresso metaforicamente como uma espécie de “chegar em casa “ .1



A concepção criativa sobre a origem existente em várias culturas revela o sonho sobre o fim ultimo assinalam a maneira pela qual o indivíduo sai de si, o que constitui o seu modo de desempenho de papeis sociais. Dessa forma o indivíduo revela -nos com a sua espiritualidade e sua religiosidade são constituídas.

“O Homens é história encarnada e no bojo de si mesmo vive não só o sofrimento decorrente dos encontro e desencontros vividos ao longo de sua biografia , mas também porta o testemunho da dor de todos os homens ao longo da história.” O seu mal-estar é também afetado pelas condições de vida inerentes ao seu tempo.

Na atualidade, observa-se que o ser humano se encontra capturado no registro do Mesmo, da coisificação, de modo que a transcendência originária da condição humana encontra-se soterrada por camadas e camadas de concepções efêmeras e mercantis, levando o ser humano a experimentar a agonia claustrofóbica do sem-sentido.

Atravessado pelo tédio, ameaçado pela impossibilidade de sustentar um sonho que seja esperança. Em meio a esse panorama o desenraizamento constitui um panorama fundamental na compreensão do adoecimento na atualidade que se expressam de várias formas por exemplo o desenraizamento étnico e o estético.

Mas aqui gostaria de lançar foco nas implicações do desenraizamento diante do sagrado o qual de certa forma, também contempla as outras categorias de desconexão usando um termo da atualidade como sinônimo de des-enraizamento que aparecem no discurso de nossos pacientes.

O desenraizamento diante do sagrado ocorre em nosso tempo em decorrência do modo como a vida humana aparece regida pelo uso da técnica como modo de vida, convivemos com um grande desenvolvimento tecnológico, que se de um lado propiciou a nós uma vida confortável, de outro levou a uma organização de mundo em que as próprias relações inter-humanas são mediadas pela técnica.



Segundo Safra, G podemos compreender a experiência religiosa a partir de três registros ou categorias temáticas: o registro psíquico, o registro existencial e o transcendental.

No Pano psíquico, observa-se que as imagens do divino no psiquismo humano sofrem evolução à medida que a personalidade do indivíduo alcança um funcionamento mais integrado, ou seja, quando o indivíduo pode entre outros aspectos, alcançar níveis de auto-responsabilidade que permita a mudança no modo-de ser no mundo.

Nesse registro, o trabalho clinico se da no campo das representações imaginárias presentes no movimento transferencial ( imagos paternais e maternais), a medida em que vá ficando claro na relação terapêutica o que e quem se está projetando a partir da experiencia do Sagrado pode haver nesse registro uma evolução do sentimento religioso em decorrência do amadurecimento psíquico facilitando de uma experiencia para além do campo representacional.

O ser humano está sempre posto diante do fato de sua finitude, há um movimento que se relaciona com o anseio do fim a partir da atualização daquilo que não foi para que possa vir a ser.

Criar um sentido pode significar em alguns vocabulários cultural-religioso, uma missão, dharma, karma, destino, para citar apenas alguns exemplos. O sentido ultimo de alguém constitui o princípio pelo qual a sua espiritualidade se constitui no registro existencial.

“...O ser humano por meio de seu gesto cria sempre novos sentidos, andarilho em direção ao sentido ultimo. Estamos sempre entre a origem e o fim. O nascer e o morrer...” Safra, 2004.

Cada um de nos estabelece uma concepção a respeito da origem. Essa concepção determina uma ontologia peculiar à pessoa que a formula, ou seja, dando condição de possibilidade para essa existência ser quem ela é hoje.

Fenômeno que também é encontrado em outros registros da experiencia humana, tais como a vida em uma determinada comunidade ou cultura étnica. Ao contatarmos uma cultura organiza-se ao redor de uma concepção da origem do mundo peculiar àquele grupo cultural. Fenômeno semelhante existe do ponto de vista de um indivíduo.

A ontologia pessoal é um aspecto fundamental da semântica existencial do indivíduo, que se estende, significando seus gestos, suas palavras , as coisas de que ele utiliza para compor seu mundo pessoal. Fato que aqui pode ser entendido como idioma pessoal presente no discurso, no gesto presente no encontro clinico.

Do ponto de vista do manejo terapêutico, Safra propõe que é fundamental o trabalho que auxilie o paciente a por em jogo seu gesto em direção ao porvir, ou seja, quais são as atitudes observadas no cotidiano do paciente que se relacionam com seus sentimentos em relação ao sentido de origem e fim.

As queixas de incoerência entre o pensar o sentir e o agir tem abertura para se trabalhar nesse registro da experiencia religiosa.

O trabalho clinico buscará sustentar a possibilidade do sonho ultimo do analisando, para que o seu modo pessoal de realizar sua teleologia -teologia possa acontecer.



O trabalho com a religiosidade do paciente no registro existencial demanda que se possa, no diálogo clinico , acessar as facetas fundamentais do seu idioma pessoal: o seu sonho de origem e seu sonho ultimo.

“(...)Podemos dizer que o ser humano é transcendência, que acontece como abertura originária diante do Outro. Isso implica dizer que cada pessoa está sempre diante da experiencia da alteridade. ( ...) “ (Safra 2006)

No momento em que a pessoa pode se deixar atravessar pela experiencia, o apartamento de uma espiritualidade, que poderia ser fenomenologicamente descrita como “ um Outro” vive em mim. Nessa perspectiva o homem vê-se diante um Outro para além do outro humano , ou mundo espiritual ou Real, já que muitas narrativas religiosas argumentam ser o mundo real da ciência um mundo de ilusões onde habita o não real.

Nesse registro de trabalho a clinica erá caracterizar-se pela possibilidade de sustentar o movimento realizado pelo analisando do que se revela em sua experiência sobre a condição humana e sobre o Real. Muitas vezes, torna-se necessário o olhar de testemunho que possibilite à pessoa a portar o saber que nela emerge .



Ambos os registros propostos nos dão base conceitual para que a experiência dos nossos pacientes conosco seja facilitadora do movimento espontâneo nesse importante aspecto da existência: a espiritualidade.

Assim a psicoterapia na contemporaneidade pode ir um pouco mais na direção da visão e intervenção no ser humano integral, Total.

O que proponho não é um tratamento espiritual, já que exitem muitas propostas terapêuticas e religiosas que versam a respeito dessa importante tarefa, apenas lanço uma reflexão que pode servir para discutirmos o tema da espiritualidade no contexto clinico da psicoterapia.

Kleber de Almeida Soares

psicoterapeuta

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Experimentos...

APRIMORE – PROGRAMA DE APRIMORAMENTO EM PSICOLOGIA

Convida para as oficinas de Kleber de Almeida Soares





Teatro Com-Ciência:


Descondicionando o pensamento através da arte



O projeto “Teatro Com-Ciência” visa contemplar algumas práticas das Artes Cênicas com conhecimentos da Psicoterapia, Filosofia Oriental e do Psicodrama. Através da linguagem cênica, textos e técnicas de improvisação, co-criaremos um ambiente para experimentar o repertório criativo existente em cada um.

Recomendado a todos em busca de autoconhecimento e ampliação da consciência para autotransformação, assim como para aqueles que desejam conhecer diferentes modos de trabalhar em/com grupos. Não é necessário ter experiência em teatro.





16 maio 2010

domingo, 14-18h



Músico-Drama: A Sonoridade Interior

O encontro tem como objetivo experimentar a influência de diferentes ritmos e sonoridades, permitindo a ampliação do estado criativo. Aguçar a sonoridade interior a partir da escuta dos sonidos externos.



13 de Junho 2010

domingo, 14-18h



O Corpo em Cena: Bioenergética e a Espontaneidade

O trabalho busca ampliar o repertório criativo através de práticas terapêuticas corporais articuladas à metodologia psicodramática do Teatro Espontâneo.



20 junho 2010

domingo, 14-18h



Drama-Curtas: Diálogos entre o Cinema e o Psicodrama

Sessão de Teatro Espontâneo e Teatro de Reprise a partir da exibição de uma seleção de curta metragem.





Kleber de Almeida Soares é Ator, Psicólogo e Psicodramatista. Atua como psicoterapeuta atendendo em consultório e instituições de Saúde mental em processo individual e de grupo. Ministra oficinas de jornal dramatizado e jogos dramáticos em empresas. Facilitador de cursos de teatro desde 2001. Membro da equipe de psicoterapeutas do Aprimore e da Sociedade de Psicodrama de São Paulo.



Inscrições: Através de pagamento na sede do Aprimore ou depósito bancário (Banco Itaú, Agência 2925, Conta poupança 11110-2/500, CPF 292.297.168-63). Favor encaminhar comprovante de depósito.



Investimento: Preço por oficina: R$45

Desconto para inscrições até uma semana antes da oficina: R$35

Desconto nas inscrições para as 3 oficinas: R$90, válido até 14/05/10



Informações: Tel. 3875-5296, com Cintia



Local: R. Dr. Paulo Vieira 363, Sumaré - São Paulo (Metrô V. Madalena)



Vagas limitadas. Certificado de presença fornecido mediante solicitação.



http://www.aprimore.com.br/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O modo próprio de Ser

A fenomenologia ontológica de Martin Heidegger vai tratar do que seria o fenômeno do ser. Para isso ele parte de uma tentativa de compreensão do que seria singular no ser humano. Para o pensador alemão o homem existe, diferente das coisas que apenas são, e tem que dar conta da sua própria existência. De acordo com isso, o ser humano é o ser-aí, (Dasein), que já se encontra no mundo, sempre aberto para compreendê-lo.

O homem é essa abertura para algo que lhe é presente. Essa compreensão de mundo sempre se dá de um modo, sempre traz consigo um sentido, um jeito de se perceber o mundo e o homem. Logo, o homem ao interpretar o mundo, já se interpreta na relação estabelecida. Essa forma de ser está dentro de uma rede significativa que seria o modo de ser deste homem no mundo. O modo de ser no qual o homem se relaciona não é fixo, mas sempre mutável por ser uma construção continua junto ao mundo. Ao mesmo tempo em que o homem não existe sem o mundo (e por isso a palavra ser-aí, ou ser-no-mundo, inseparáveis, escrita assim para falar do ser homem), também não existe sem os outros seres humanos, por isso, uma das características do ser-no-mundo é ser-com-os-outros.

O homem seria essa abertura para o mundo no qual já está, seria uma clareira onde as coisas que se mostram podem aparecer e serem compreendidas, dotadas de sentido. O Dasein sempre se abre de uma maneira, que varia. Porém, conforme Heidegger (1999): “Sendo sempre o mesmo, possui nas muitas alterações, o caráter de próprio”. Nesse contato com o mundo, o Dasein vê o que ele mesmo é, ao mesmo tempo em que vê o que não é. Esse não ser ele mesmo não é ausência de ser, mas indica um determinado jeito de ser do Dasein, como a perda de si próprio, por exemplo.

O Dasein, nesse ser-com-os-outros, não dá conta sozinho do seu próprio ser, mas está sob a tutela dos outros (Heidegger, 1999). Não é ele próprio que é, os outros lhe tomam o ser. Assim se delineia a noção de modo próprio ou impróprio do ser. O Dasein sente que o modo como está sendo no mundo é uma forma bem própria dele, que está sendo autêntico; ou pode sentir que está sendo de um modo que não é seu; ou mesmo nem sentir, pensar-se sendo si mesmo enquanto segue com todos.
 

domingo, 14 de março de 2010

Relação homem-mundo: O Corpo.

A fenomenologia se caracteriza como não sendo uma linha filosófica, mas uma conduta frente ao mundo. Dessa forma de se relacionar com o mundo nasce uma forma diferente de conhecimento também. Na fenomenologia a relação do sujeito com o objeto estudado se dá de forma diferente, exatamente porque esse homem não está fora do mundo que estuda, mas profundamente imbricado, inserido nele. O sujeito não está fora do mundo, mas sim em um corpo num mundo percebido desde sempre. Merleau-Ponty (1999), filósofo e fenomenólogo, desfaz essa idéia tradicional de que de um lado existe o mundo dos objetos, do corpo, da pura facticidade e, de outro, o mundo da consciência e da subjetividade, da transcendência através da busca de definir fenomenológicamente o que é perceber que algo está no mundo. O que pretende é melhor “compreender as relações entre a consciência e a natureza interior e o exterior”. O sujeito está e é no corpo, e este está sempre no mundo. Daí se pensa que o sujeito realmente está no mundo, desde sempre, imbricado, numa ligação pré-reflexiva com o mundo. O homem está no mundo antes do pensamento, e esse pensamento seria a consciência, caracterizada de forma diferente do que é concebida no pensamento científico. A consciência não seria algo constituinte do mundo, não teria esse poder de criar o mundo, mas também não é apenas consciência de que algo está lá e está sendo percebida por mim, uma consciência perceptiva. Na verdade o filósofo faz um diálogo entre essas duas formas de pensar a relação do homem com o mundo (o sentido construído pela consciência ou dado pelo mundo), mostrando que é exatamente nesse diálogo entre o homem e o mundo é que se tem o sentido colocado no mundo.


 
Antes de trabalhar com a idéia de corpo, busca se desfazer da idéia dualista de sujeito objeto, como a científica que vê o corpo como apenas objeto, amontoado de órgãos, ou das filosofias da consciência, que colocam a percepção do corpo como construída pela consciência. Ele trabalha o corpo como o local onde o ser existe no mundo, onde o campo do fenômeno se abre para ele. Seria o corpo vivido, algo existente, onde ocorre a conexão entre esses dois aspectos que são sempre trabalhados em separado pelo pensamento ocidental. O corpo fenomênico é esse corpo vivido, vivido em sua relação com o mundo. A vivência de uma relação com o mundo e com os outros (sempre através do corpo) se torna elemento de base do viver humano, ganhando no momento da percepção um sentido tanto o mundo quanto o próprio ser. Nesse diálogo entre as partes que já se encontram juntas é que tudo se significa e se define. Parte-se na construção do conhecimento sempre da subjetividade como estando totalmente ligada e essa busca do objetivo no real, ao contrário do pensamento científico que tenta excluir o que seria subjetivo, deixando apenas o que é do objeto “em si”.